Comunicação não violenta na família

Uma das dificuldades mais frequentes quando se aborda famílias é a comunicação, especialmente quando as relações se tornam abusivas. A agressão assume vários níveis da comunicação: se expressa pelo olhar, gestos, tom de voz e outras sutilezas. Em muitos casais e famílias, isso não chega a ser problematizado e, por meio da banalização dessas atitudes, a violência entra numa escalada até alcançar um estágio (auto)destrutivo.

A comunicação não violenta

A comunicação não violenta (CNV) começou a ser estudada e desenvolvida por um grupo de pesquisadores liderado pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg (1934-2015), que procurou estabelecer um modelo para revisar e redefinir a comunicação com base na conexão pela empatia. Essa concepção de comunicação teve como inspiração as ideias de Gandhi.

Marshall Rosenberg

A CNV pode ser didaticamente dividida em 4 fases:

  1. Observação: momento em que deve ser observada a dinâmica da comunicação sem juízo de valor, tentando deixar de lado as ideias de “certo” e “errado” e adotando a postura mais autocrítica e analítica em relação ao modo de se comunicar.
  2. Sentimentos: fase em que a pessoa deve nomear aquilo que sente sem que o faça tomando como referência o outro, mas tentando olhar unicamente para dentro de si. Nesse estágio do modelo, é importante evitar usar descrições ou opiniões no lugar dos sentimentos.
  3. Necessidades: a partir dos sentimentos da fase anterior, aqui o foco é a expressão das necessidades de cada um. Mais uma vez é importante evitar colocar a atenção no outro, no que o outro deve fazer para mudar, mas expressar da maneira mais clara e sincera quais são as necessidades pessoais. Certamente, é fundamental haver um razoável grau de autoconhecimento, pois muitas pessoas não sabem identificá-las.
  4. Pedido: a exigência, a intimidação e a ameaça devem dar lugar ao pedido. Esse pedido pode ter como resposta o “não” e, por isso, a empatia deve ser aprimorada para que seja possível compreender os obstáculos nas interações. Assim, uma pessoa terá condições de compreender melhor as dificuldades do outro e, então, ficará mais fácil construir uma solução negociada.

Padrões disfuncionais de comunicação

A comunicação é um conjunto de interações e a repetição desse conjunto de interações recebe o nome de padrão. Quando uma determinada sequência de interações leva a um prejuízo no funcionamento geral do casal ou família é chamada de padrão disfuncional.

Embora os casais cheguem a uma terapia desgastados por essa situação que, em geral, já se repete há anos, é preciso identificar essa sequência de interações e tentar substituir determinados comportamentos tóxicos por outros empáticos, a fim de restabelecer a conexão e a cumplicidade do casal e/ou família.

Na ausência de um espaço em que essas questões possam ser amplamente trabalhadas, é aconselhável conhecer o modelo da comunicação não violenta como forma terapêutica de repensar e atuar nos vínculos amorosos.