A psicoterapia no imaginário coletivo. Qual a ideia que se tem da psicoterapia nos dias de hoje? Se eu pudesse agrupar e apresentar aqui algumas ideias com base nas expectativas de pacientes às quais tive acesso, provavelmente eu diria que eles buscam (re)soluções, ordem, sossego, certezas, descobertas e outras palavras que sugerem satisfação e equilíbrio. No entanto, isso está longe de representar o processo terapêutico, pelo menos da maneira linear como entendemos, o que se revela, com uma reflexão mais profunda, um verdadeiro alívio. Como lembra Eduardo Galeano, esse lugar de felicidade que brilha no horizonte nos move a seguir em frente, não constitui a jornada.
Então, qual é o caminho? Se a psicoterapia não chega para trazer convicções, qual seria a vantagem de investir nessa experiência? De fato, a psicoterapia pode contribuir para legitimar o caos, permitir dúvidas, ampliar movimentos desordenados, acolher o desassossego. Em outras palavras, a psicoterapia é o lugar onde a crise é bem-vinda. Neste mundo em que sentir dor tornou-se sinônimo de fracasso, um espaço para viver plenamente a vulnerabilidade é para poucos. Ali não é preciso acertar nem corresponder as expectativas de ninguém, nem as próprias. Cada vez mais busca-se um lugar no qual seja permitido sentir e olhar para si sem tantas demandas, exigências. Fissuras, rupturas, redenção, autocompaixão e recomeços não são tolerados no discurso do sucesso.
O que encontramos depois? Nietzsche dizia que “é preciso ter o caos dentro de si para gerar uma estrela dançante”. Isso quer dizer que não haverá um equilíbrio definitivo. Já alcançamos a compreensão de que encontraremos sentidos, mas eles jamais serão definitivos. Serão renovados à medida em que os estágios da vida avançam e demandam novos sentidos para interpretar as realidades que se apresentam. Isso em nada reduz a importância de se alcançar uma certa estabilidade, ainda que ela esteja sujeita a períodos de maior oscilação e fragilidade, pois está apoiada numa estrutura orgânica, capaz de transformar a si mesma.
Afinal, onde vamos parar? Quanto mais vivemos, maior a necessidade de mudança e, naturalmente, passaremos por inúmeros ciclos desse processo. Estudiosos dos sistemas complexos suspeitam que exista uma estranha ordem por trás do caos. Acredito que seja ingênua toda teoria que supõe a presença constante de um estado de paz e ordem interior. Viver bem não é evitar o caos, e sim escutá-lo, encontrar sentido nele e saber atravessar os processos de morte e vida. A psicoterapia é o colete salva-vidas que nos possibilita mergulhar na crise e retornar com novos sentidos, elaborando medos e desejos. É disso que trata o autoconhecimento.