Os desafios do confinamento

Inicialmente, muitos imaginam que ficar confinado pode ser uma experiência muito parecida com tirar férias. Essa foi a ideia de muitos com a recomendação das autoridades de saúde de permanecer em casa por causa do coronavírus. Entretanto, já existem relatos de como essa perspectiva pode se tornar dolorosa para muitas famílias.

O El País revelou um estudo da Sociedade Chinesa de Psicologia em que 42,6% dos chineses apresentaram sintomas de ansiedade em relação ao coronavírus e 16,6% de depressão. A matéria menciona uma cidade chinesa que registrou um aumento no pedido de divórcios por causa do isolamento e deixa alguns conselhos para como lidar melhor com o confinamento: relativizar as sensações, examinar-nos sem projetar no outro, promover enfoque positivo, ser educados e respeitosos, criar rotinas essenciais, ficar atento aos conflitos, ter espírito de equipe, se divertir juntos, passar um tempo sozinho e se comunicar com outras pessoas.

A experiência de confinamento será mais difícil para as pessoas que não têm o hábito de permanecer sozinhas, que se sentem angustiadas diante do silêncio e incapazes de contemplar a presença de si mesmas. Isso, culturalmente, é um desafio maior para a comunidade latina, mais ruidosa e ávida por interação. Aqueles que se refugiam no trabalho por evitar alguma situação em casa, seja um conflito conjugal ou com os filhos, se sentirá acuado ou pressionado para encaminhar essas questões. Nos casos em que já existem dificuldades no relacionamento de casal, a convivência obrigatória pode ser um catalizador para a separação.

Alguns eventos poderão adicionar uma carga de estresse ao confinamento, como a internação de pessoas próximas ou até mesmo a experiência do luto. Justamente para não mobilizar tanto sofrimento, outros se defendem dessa situação negando os perigos envolvidos. Sabemos, por exemplo, que a adolescência é um período em que o indivíduo, para se diferenciar, está inclinado a se aventurar e negar os riscos. Outros podem mobilizar uma energia de proteção excessiva e sentir uma ansiedade aguda. De todo modo, as gerações de hoje estão vivendo uma falta de controle até então fictícia, em um mundo onde tudo parecia controlável pela tecnologia. Tolerar um mundo sem controle pode trazer muita dor para as pessoas que não sabem lidar com a negatividade e a frustração.

Tudo indica que teremos pela frente mais 60 ou 90 dias de reclusão e, em alguns dias ou semanas, teremos que conviver com o vírus dentro de algumas pessoas queridas. Por isso, precisaremos nos fortalecer individualmente e como sociedade para oferecer também cuidados psicológicos àqueles que se sentem mais desamparados (emocionalmente ou pelo sistema de saúde) ou que vão passar por perdas dolorosas. No final de tudo isso, reconheceremos o papel de cada um nessa crise sem precedentes no Brasil.


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