Assédios laboral e escolar durante a pandemia da COVID-19

Desde o início do isolamento social por causa da pandemia, aumentam os relatos de pais e filhos que vêm sendo inundados por demandas sem limites. Em grande parte desses casos, há queixas de que os chefes entendem que no teletrabalho os funcionários devem estar disponíveis a qualquer hora. Por isso, enviam mensagens e marcam reuniões quando bem entendem. Já os professores, são pressionados pelos gestores das escolas e enviam um grande volume de conteúdo e tarefas pela internet.

Em primeiro lugar, é importante destacar que adultos e crianças não passaram por um período de transição e sentiram ou sentem dificuldade de se adaptar ao trabalho em casa. De uma hora para outra, passaram a ficar horas diante de uma tela e sem a mesma estrutura que oferece um espaço de trabalho ou uma escola. A cobrança por resultados aumentou para compensar a manutenção do pagamento integral de salários e quase nenhum (ou nenhum) suporte foi oferecido para quem tem se mostrado mais vulnerável neste momento.

Infelizmente, estamos observando uma sociedade mais pressionada no momento de crise. É de se esperar que a produção e o rendimento escolar declinem e, sendo assim, que as instituições busquem maneiras de reduzir o sofrimento psicológico, uma vez que essa condição, sem dúvida alguma, gera prejuízos no motor da economia e no funcionamento familiar. No entanto, é notável o aumento do assédio nos ambientes escolar e de trabalho.

Se havia, inicialmente, uma expectativa de maior convívio familiar e mais tempo livre para crianças, percebe-se que isso foi apenas uma ingênua antecipação de como ocorreriam os rearranjos profissionais e escolares. A pressão econômica gerou um fluxo de violência de cima para baixo e, para resistir às ameaças de corte de salário ou reprovação, pessoas de todas as idades foram submetidas a uma condição insalubre de produção.

É preciso oferecer momentos de desconexão durante a pandemia e, caso esse direito seja negado à sociedade, haverá um rápido esgotamento e adoecimento em razão dessa carga adicional de estresse. Na verdade, esse processo está em curso e em ritmo acelerado. Os limites de exposição à tela precisam ser respeitados e cada indivíduo necessita, antes de mais nada, sobreviver aos próprios medos e às ameaças externas, o que inclui (man)ter cuidados em relação à sanidade mental.