Relações abusivas em Bebê Rena

A escolha inconsciente por trás de uma relação abusiva

Alerta de spoiler

A série Bebê Rena (Baby Reindeer, 2004), em exibição na Netflix, aborda a vida de um atendente de bar e comediante chamado Donald “Donny” Dunn, que passa a ser perseguido por uma mulher, Martha Scott, desde que a vê pela primeira vez e lhe oferece um chá.

A série me foi indicada enfaticamente pela psicóloga amiga Adriana Janaína e não me pareceu suficientemente interessante o enredo da perseguição até a série se voltar para a vida do homem perseguido. Antes de conhecer Martha, Donny havia conhecido um renomado roteirista que o incentivava na carreira de comediante e o estuprou várias vezes sob o efeito de drogas. Ainda que soubesse de todo o abuso que sofria, o comediante se sentia preso à situação porque dependia dos elogios e de alguém que “acreditasse” nele.

Ao conhecer Martha, Donny também se prende a uma pessoa que o elogia e trata carinhosamente, mesmo depois de se dar conta que ela o sufoca, invade a sua privacidade e imagina um romance sem reciprocidade. Muitas vezes ele tem a oportunidade de denunciá-la, mas por uma razão qualquer não consegue ir adiante. Em meio a isso, Donny conhece Teri, uma terapeuta trans por quem se apaixona e que lhe revela que ele gosta da relação abusiva com Martha.

A série se desenvolve de tal maneira que o próprio Donny passa a se interessar por que se envolveu com Martha e o que precisa fazer para evitar recorrer nesse tipo de padrão de relacionamento. Portanto, é uma série que trata do abusador na medida em que ele representa uma escolha inconsciente e persistente do abusado.

Em certos momentos, a série me lembrou um clássico sobre stalkers quando esse termo ainda não havia sido cunhado e mal havia rede social. Me refiro a Louca Obsessão (Misery, 1990), com James Caan e Kathy Bates, baseado no livro de Stephen King.

Netflix e a iniciativa sobre saúde mental

A Netflix aproveitou o tema de várias séries e filmes para lançar também um site sobre saúde mental. Acessando Você quer conversar? (Wanna talk about it?), é possível não só conhecer os títulos do catálogo que abordam temas psicológicos como visitar sites de apoio e acolhimento. Há ainda dicas em vídeo e texto de como identificar sinais de ansiedade e depressão.

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