Nota sobre o luto: pouco a fazer e muito a sentir

Um dos temas que mais surgem no consultório é a dificuldade de atravessar lutos. Não se pode afirmar que essa dificuldade é maior ou menor nessa geração de crianças, porém me arrisco a dizer que é uma geração fortemente impactada pelo consumo.

Partindo desse ponto, podemos presumir que é uma geração que substitui facilmente seus objetos por versões mais recentes. Provavelmente, estamos falando também de uma geração que muito ganha e pouco perde. Sempre motivada por novidades, sem a perspectiva de relações pessoais e materiais duradouras.

O meio virtual colabora para essa forma de interação. A perda é pouco sentida quando há sempre um campo infinito de possibilidades. A substituição torna-se o comportamento padrão para (não) lidar com o luto, ainda sob o risco de que isso possa intensificar a ausência do objeto perdido.

O que fazer para lidar com a perda então? Essa é uma pergunta frequente no consultório. Eu diria, ou melhor, digo: não há nada a fazer, mas há muito o que sentir. O luto é para ser sentido, e em profundidade. É um processo inevitável e essencial para o recomeço. No processo é que são conhecidas as dores e os medos, entre os quais eu destacaria a dor do abandono e o medo de ficar só.

Ainda que não haja garantia de um final feliz, o caminho do enfrentamento é o mais saudável do ponto de vista da saúde mental. O entorpecimento, a substituição imediata e outras maneiras de não sentir apenas adiam e potencializam o sofrimento. A dinâmica de ganhar-perder-ganhar é o gráfico da vida. Na realidade, com o tempo as perdas começam a superar os ganhos e, portanto, a capacidade de lidar com o luto, reiventando-se com os recursos disponíveis, determina a qualidade das etapas finais da vida.