Deixe-se morrer e acredite no novo

O escritor colombiano Mario Mendoza compartilhou durante uma entrevista dois momentos da sua história em que se sentiu profundamente tocado para a mudança. Ao narrar uma experiência em que quase foi assassinado, ele nos conta que deixou aquela pessoa para trás e traçou a meta de escrever um livro como um legado importante da sua passagem por este mundo.

Mendoza nos aconselha que devemos deixar esse ser já sem sentido morrer e não carregá-lo nas costas. Apesar dos medos, pois sempre existirão medos, não devemos seguir adiante sendo uma pessoa que insiste nos mesmos erros até o ponto de não suportar mais a própria vida. Aqui o escritor está falando sobre a dificuldade de deixar morrer uma identidade, como somos vistos e como nos percebemos. Além disso, ele também se refere aos nossos padrões de escolhas, que nos proporcionam alguma forma de segurança ou controle no desconhecido.

Para dar esse passo, certamente é preciso depositar a segurança em outro lugar diferente desses padrões comportamentais. O seu segundo insight veio de um verso escrito numa gruta por indígenas norte-americanos (navarros): “Salta, já surgirá o chão”. Essa frase pressupõe um ato de fé na atitude de se lançar e acreditar que algo ou alguma entidade proverá a sustentação, a segurança. No seu caso, esse ato não estava ancorado numa experiência religiosa ou mística prévia.

A ideia de atravessar ciclos durante a vida nos faz pensar em constantes recomeços. Os lutos são, sem dúvida, momentos sofridos pelas perdas profundas e irreparáveis que sofremos na jornada da vida. E essa narrativa nos instiga a adotar um olhar corajoso frente ao novo, certamente um convite para assumir o protagonismo na nossa própria história. Nem sempre é possível fazer isso sem apoio.

Por isso, para recomeçar é importante encontrar alguém capaz de nos fortalecer com aquela ilusão necessária, suficiente. Trata-se da ficção que existe em toda narrativa terapêutica, que nos permite construir uma versão possível de nós mesmos, aquela utopia que nos faz caminhar, segundo Eduardo Galeano. Essa narrativa não deve vir pronta, enlatada como propõe a autoajuda, mas deve ser elaborada pela própria pessoa.