Quem faz terapia de casal se separa?

Com muita frequência me perguntam se quem faz terapia de casal se separa. Vou falar brevemente sobre isso para deixar o mais claro possível a minha opinião sobre esse tema. Em primeiro lugar, é importante esclarecer que o terapeuta de casal e família não é um doutrinador, não está a favor do casamento ou do divórcio, mas do bom funcionamento dos sistemas conjugal e familiar.

De modo geral, as pessoas buscam psicoterapia (ainda mais de casal) como último recurso para lidar com os seus conflitos. Em alguns casos, os casais já não dividem o mesmo quarto nem se tocam. Há situações em que nem estão mais morando juntos. Pode ser que nesses casos o terapeuta apenas tenha um papel de mediador, atuando para assegurar uma comunicação mínima entre as duas pessoas. Portanto, às vezes a decisão de se separar já foi consciente ou inconscientemente tomada, o terapeuta apenas ajuda o casal a atravessar da melhor maneira possível esse momento de transição.

A busca pela psicoterapia não está necessariamente relacionada à decisão de permanecer casado(a) ou se separar. É importante lembrar que um relacionamento não acaba de uma hora para outra, muito menos pela “decisão” de um terapeuta. O que observo é que as pessoas chegam ao consultório após um processo longo de desgaste e cientes da motivação em relação a tentar ou desistir. Quando se trata do casal, não é raro haver uma parte que está mais interessada e a outra que foi levada ao consultório, ou seja, o casal apresenta motivações distintas em relação à terapia. Esses são alguns aspectos das demandas que já denunciam muito a respeito das decisões que serão tomadas ao longo das sessões.

O terapeuta conjugal ajuda o casal a reavaliar o relacionamento e a identificar as dificuldades na interação das duas pessoas, oferecendo meios para promover mudanças importantes e construir uma nova perspectiva. Não é atribuição do terapeuta fazer escolhas pelas pessoas que o procuram. Essa atitude, inclusive, constitui uma falta ética que deve ser tomada pelo cliente/paciente como uma conduta inadequada. Dessa forma, o terapeuta de família e casal não advoga para ninguém nem por valores, mas auxilia as duas pessoas a encontrar possibilidades mais saudáveis de se relacionar, até mesmo porque quase sempre a relação conjugal tem repercussão em outras pessoas, como filhos e outros parentes. O sistema familiar como um todo costuma ser afetado pelo bom ou mau funcionamento do casal.

Sem adentrar no mérito do que é certo ou errado, sabemos que caminhar sozinho pode ser um caminho mais saudável para ambos, principalmente quando a relação assume padrões de interação (auto)destrutivos. Cada indivíduo deve ser respeitado pelo terapeuta na sua decisão de permanecer junto ou de se separar, pois acreditamos que existem motivos suficientemente fortes por trás de cada escolha. A mudança é um processo doloroso que só deve ser levado adiante por decisão do cliente/paciente e o terapeuta não pode assumir esse protagonismo em hipótese alguma.