Tempos de ninho vazio
O ninho vazio no ciclo de vida familiar
A exemplo de várias teorias da psicologia que estudam o desenvolvimento do indivíduo, a Terapia Familiar também tem se dedicado a estudar o desenvolvimento da família (Carter & McGoldrick, 1995), que serve como referência para a compreensão dos fenômenos do ciclo de vida familiar. Um deles está bastante presente em matérias de jornais e revistas e é conhecido como “ninho vazio”.
O ninho vazio não constitui propriamente um estágio do ciclo de vida familiar, mas é considerado um fenômeno que ocorre na fase em que os filhos alcançam a idade adulta, formam seus próprios núcleos familiares e os pais voltam a ficar sós. A solidão torna-se a perspectiva de muitos casais que perderam a cumplicidade e intimidade ao longo da vida devotada aos filhos. O ninho vazio poderia representar um momento de liberdade, tranquilidade e retomada dos projetos do casal, porém em geral representa um vazio afetivo, sobretudo porque muitas vezes coincide com a proximidade da aposentadoria e doença ou perda dos próprios pais.
Adaptação à “nova” relação conjugal
Esse fenômeno da meia-idade tende a ser cada vez mais comum por causa do envelhecimento da população no Brasil e no mundo e também porque os netos já demoram mais a chegar, criando um intervalo maior entre três gerações. A expectativa frustrada de que netos preencham o vazio deixado por filhos tem levado muitos casais à separação ou criado enormes dificuldades para a continuidade da vida a dois. Além disso, o aumento da expectativa de vida tanto para homens como para mulheres tornou necessário um novo sentido de vida para as pessoas que chegaram nessa etapa do desenvolvimento.
A difícil adaptação ao ninho vazio é um fator de vulnerabilidade para a depressão, que por sua vez representa um risco maior para pessoas idosas. As questões relacionadas ao ninho vazio decorrem de transformações recentes da sociedade e da família, para as quais não existem soluções instantâneas. O que é certo é a importância de cuidar da relação conjugal em todas as etapas do ciclo de vida familiar, pois dirigir excessivamente a atenção para outras questões pode custar caro mais adiante. Esse desvio da relação conjugal para um terceiro é conhecido na Terapia Familiar como triangulação e ocorre com frequência, mas não deve se tornar um padrão na relação do casal sob o risco de torná-los estranhos um para o outro.
A relação conjugal merece atenção durante todos os estágios do ciclo de vida familiar, demandando do casal uma série de tarefas a fim de que eles se adaptem aos diversos contextos que surgem no desenvolvimento da família. Caso isso não ocorra a contento, a terapia de casal é indicada. O ninho vazio ocupa um período de transição entre os estágios da família e reflete como o casal enfrentou as etapas anteriores do seu desenvolvimento.
Referência Bibliográfica:
Carter, B., McGoldrick, M. (1995). As mudanças no ciclo de vida familiar (2a. ed). Porto Alegre: ArtMed.