Escolhendo um terapeuta de família

A formação do terapeuta de família

O psicólogo especialista em Terapia de Casal e Família tem um curso de formação ou especialização que envolve uma carga horária de teoria e prática. A abordagem usada nesses cursos é a sistêmica, que por sua vez é dividida em várias outras abordagens, mas tem como pressuposto a concepção da família como um sistema dotado de propriedades específicas. Existem vários psicólogos que atendem famílias, porém não são terapeutas familiares, pois não possuem uma formação específica para a psicoterapia de casal e família. Isso implica dizer que não são especialistas e não possuem um curso de pós-graduação para lidar com a família em toda a sua complexidade. Alguns cursos de formação e especialização em outras abordagens possuem um módulo sobre família, geralmente um carga horária reduzida e sem prática.

Terapia Familiar Sistêmica

Gregory Bateson

Gregory Bateson

Embora exista um grande número de abordagens psicológicas, apenas algumas são mais conhecidas por quem busca psicoterapia, entre as quais a Psicanálise e a Análise de Comportamento. A abordagem sistêmica teve seu início na metade do século XX por meio dos estudos realizados em Palo Alto com famílias de pacientes esquizofrênicos, sob a liderança do antropólogo Gregory Bateson. Várias correntes se originaram desse grupo de pesquisadores, como a Terapia Familiar Estrutural de Salvador Minuchin, a Terapia Familiar Estratégica de Jay Haley e a Terapia Familiar de Milão. Todas elas ofereceram conceitos importantes para a compreensão e o tratamento do grupo familiar como sistema e continuam influenciando as pesquisas mais recentes na área.

Conceitos como homeostase, circularidade, papéis e fronteiras são frequentemente usados para descrever o funcionamento patológico (ou disfuncional) das famílias. O aspecto mais importante da Terapia Familiar Sistêmica é que ela não tem como foco a compreensão do que ocorre na mente do indivíduo, mas como ocorrem e o que pode mudar nas relações entre os indivíduos do grupo familiar.

Abordagens individuais e sistêmicas

Os psicólogos que atendem famílias, em geral, o fazem tendo como referência uma abordagem com ênfase no indivíduo, enquanto o terapeuta de família usa conceitos sistêmicos. A adaptação de uma abordagem individual para compreender e atuar no sistema familiar não resulta em resultados tão eficazes como o uso de uma abordagem sistêmica, pois existem fenômenos complexos característicos do grupo familiar que não são análogos ao psiquismo de um indivíduo.

As abordagens holísticas têm como princípio que o todo é maior do que a soma das partes, já que as interações são responsáveis por eventos que vão muito além da soma de duas (ou mais) partes. Por exemplo, o som produzido pela interação simultânea de instrumentos de uma orquestra sinfônica provoca um efeito estético mais rico do que cada instrumento separadamente proporciona. Nesse caso, dois mais dois não são apenas quatro. Essa complexidade do todo já está amplamente difundida na psicologia e em outros campos da ciência.

Afinal, por que escolher o terapeuta de família?

Nada impede que um psicólogo faça atendimento a uma família, principalmente se o atendimento é individual (a uma criança ou adolescente, por exemplo), entretanto a psicoterapia de família com um terapeuta especialista em casal e família proporciona um ganho em razão das vantagens que a teoria sistêmica oferece. O olhar sistêmico auxilia a identificar padrões que surgem das famílias de origem de cada cônjuge, inclusive os padrões que foram transmitidos por outras gerações e que não são percebidos claramente pela família. Como se trata de uma abordagem nova, muitos psicólogos ainda tentam compreender a família pelos paradigmas usados nas psicoterapias individuais. Essa limitação é natural na formação do psicoterapeuta individual e representa um árduo obstáculo para promover mudanças efetivas no sistema familiar.

Na minha opinião, o psicólogo individual que se aventura a atender família sem dominar conceitos sistêmicos corre o risco de frustrar a família pela ausência de conhecimento na área e, por consequência, realizar uma intervenção que aumente a dinâmica disfuncional do sistema.