A repercussão do câncer na família

No domingo 3 de janeiro de 2016, saiu uma reportagem na Revista do Correio com o título “Reconstruir para construir” a respeito dos aspectos psicológicos que envolvem o tratamento quimioterápico de pacientes oncológicos. Quando consultado, enfatizei a importância das relações que cercam o paciente com câncer, em especial a relação conjugal. O estresse gerado pelas incertezas, pelos medos, pelo sofrimento de cada etapa de tratamento alcançam todos os membros da família e o apoio é um fator determinante para a recuperação, como em tantas outras doenças.

Quando é uma criança a paciente, é necessário trabalhar formas de manter outras crianças por perto, na medida do possível. O universo lúdico da criança deve ser preservado, bem como o contato com amigos e familiares, algo às vezes inviável quando o tratamento é realizado em outra cidade. Nessas situações, é importante manter uma forma de contato, normalmente virtual, para que as pessoas manifestem afeto e apoio. Os pais podem precisar de psicoterapia para saber lidar com a dor do(a) filho(a) e, com isso, encontrar meios para enfrentar o próprio medo de perdê-lo(a).

A relação conjugal é especialmente afetada em alguns tipos de câncer, como o de próstata e o de mama, pois mudam a vida sexual do casal. Como em todas as doenças graves, o próprio estresse já torna o dia a dia da família desgastante, reduzindo muitas vezes o espaço íntimo do casal. No caso do câncer de mama, há um prejuízo estético que muda a relação da mulher com o próprio corpo. O efeito devastador para a autoestima da paciente também muda a relação com o(a) companheiro(a), que, pelo seu lado, tem que lidar com o luto do corpo perdido. Certamente, a relação conjugal será outra, não mais aquela que havia antes da cirurgia e do tratamento. No caso do câncer de próstata, a autoestima do homem também é prejudicada, uma vez que, em nossa cultura, está intimamente relacionada à potência que o homem apresenta na relação sexual. Existem outras formas de câncer que causam mutilação e afetam a autoestima do paciente e isso é uma questão de deve ser tratada em família, dada a influência que exerce nas relações entre os familiares e com o paciente. Do contrário, é possível haver um adoecimento de todo o sistema familiar.

A matéria da Revista do Correio é bem ampla e outros profissionais de saúde, como a psiquiatra Helena Moura, foram consultados, mostrando o cuidado e a credibilidade das informações. Vou disponibilizar a imagem para quem tem interesse em ler e não tem acesso ao site.

reportagem cancer e familia Correio Braziliense