A (in)segurança de se ter uma arma em casa

Armas e mais mortes de crianças

Após o setembro amarelo, mês em que ocorre a campanha para conscientizar a população sobre o suicídio, estamos acompanhando a possibilidade de haver mudanças nas leis que controlam o acesso às armas de fogo. Infelizmente, não existem muitas discussões a respeito de como a facilidade de aquisição de armas pode aumentar o risco de mortes em casa, principalmente por suicídio.

Neste mês, a BBC divulgou estudos nos EUA que revelam que os Estados em que a lei sobre o porte de armas de fogo é mais flexível registram mais mortes de crianças.  Lesões decorrentes de armas de fogo matam mais que câncer e doenças cardíacas somadas. Infelizmente, os pais não estão atentos o suficiente para evitar que as crianças tenham acesso às armas. Não há motivos para acreditar que o Brasil esteja livre desse problema caso as leis facilitem o porte de armas de fogo.

O IBGE já aponta que o Brasil sofre com déficit de creches para as crianças de 0 a 3 anos, principalmente nas famílias de renda mais baixa, o que pode indicar que muitas crianças passam o dia inteiro em casa sem cuidados adequados, já que os pais ou responsáveis provavelmente estão trabalhando na maior parte do tempo. Em muitos casos, as crianças em idade pré-escolar ficam sob os cuidados de irmãos mais velhos.

Suicídio preocupa pais de jovens

Outros números que merecem análise foram divulgados em maio deste ano, quando o portal R7 apresentou dados do Ministério da Saúde revelando que a taxa de suicídio no Brasil encontra-se estável há dois anos. Entretanto, as faixas etárias em que a taxa de suicídio mais cresce são as de jovens e idosos. O sexo masculino é mais atingido por esse tipo de morte, chegando a 79% do total. A matéria do portal aponta que um estudo americano considerou a solidão tão mortal para os jovens quanto o tabagismo e mais perigosa que a obesidade.

O tema já vinha preocupando os pais de adolescentes depois da popularidade da série “13 Reasons Why”, exibida pela Netflix. Para algumas pessoas, inclusive pesquisadores, a série estimula ideias sobre o suicídio, uma vez que as consultas relacionadas ao termo na internet aumentaram após o início da série. Para outros, é importante vencer o tabu e conscientizar pais e filhos sobre os riscos desse tipo de morte por meio de conversas em família.

De toda forma, uma arma de fogo em casa representa um perigo para um jovem que atravessa um episódio depressivo. A ocorrência de bullying ou cyberbullying também é uma situação de estresse que pode levar a um desfecho fatal. Em vários casos, os pais não estão a par do que ocorre com os filhos e acabam, por isso, subestimando o risco de suicídio. As medicações, bebidas, drogas, armas e outras tantas situações devem ser de total vigilância familiar quando o jovem apresenta qualquer sinal de que pode cometer uma violência contra si mesmo. 

Vamos falar sobre isso…

Ainda é tempo de começar a debater o que pode acontecer nas famílias brasileiras com a facilidade de se adquirir armas. Provavelmente, as pessoas que buscam armas para cometer crimes não serão atingidas por essa mudança, pois continuarão a buscar armas clandestinamente sem qualquer interesse em registrá-las. No entanto, muitas pessoas hoje que pensam na segurança que representa ter uma arma podem estar criando as condições para uma tragédia familiar.

O impulso de resolver um conflito através de um disparo já é realidade em muitas famílias brasileiras. Vivemos num país onde a taxa de feminicídio é a quinta maior do mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), e 71,6% dos homicídios são provocados por armas de fogo, segundo o Mapa da Violência, elaborado pelos Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

Sendo assim, os dados mostram que as armas de fogo produzem um grande número de mortes dentro de casa, e isso inevitavelmente deixa marcas profundas nas famílias que poderiam ser evitadas ou minimizadas.